É prática comum das editoras destruírem livros que estão em armazém. Governo quer resolver o problema. Manuel Alegre diz estar "triste"
A destruição de milhares de livros pelas editoras portuguesas é "um massacre" que deve ser resolvido a curto prazo. Esta é a reacção de Gabriela Canavilhas, ministra da Cultura, que explicou ao i a sua posição perante as notícias de que o Grupo Leya destruíu dezenas de milhares de livros antigos de autores como Jorge de Sena, Vasco Graça Moura ou Eugénio de Andrade.
"O Ministério da Cultura irá fazer tudo o que estiver ao seu alcance para evitar a destruição de livros, que afinal é uma prática regular e generalizada", afirmou a ministra ao i ontem à noite, à margem da cerimónia de entrega do Prémio Leya ao escritor luso-moçambicano Borges Coelho, em Maputo. Gabriela Canavilhas reconheceu que há um problema e garantiu que a sua resolução é uma prioridade no regresso a Portugal.
A polémica com o Grupo Leya já tinha surgido em Fevereiro, quando o antigo editor José da Cruz Santos denunciou a destruição de milhares de livros pela editora de Miguel Pais do Amaral ao "Jornal de Notícias". Mas foi esta semana que atingiu proporções de escândalo, por causa de um artigo de opinião no jornal "Público". Precisamente a semana em que o grupo editorial entrega o Prémio Leya em Moçambique.
Isaías Gomes Teixeira, administrador-delegado do grupo, explica porque é que a Leya decidiu destruir os livros. "É uma inevitabilidade e acontece com todas as editoras pelo mundo fora. Torna-se impossível mantê-los pelo custo operacional e de armazenagem." Os livros "não foram para o lixo", sublinha o responsável, "foram destruídos para reciclagem, para obter papel". Chegou a haver uma oferta para que chegassem a Timor, mas o Ministério dos Negócios Estrangeiros "disse não ter dinheiro para o transporte". Nesse lote "havia de tudo, livros amarelecidos, livros escolares que já não estavam de acordo com o plano nacional, amolgados..."
A questão dos custos e dos limites dos armazéns, referida por Isaías Gomes Teixeira, pode ser resolvida com acordos, considera Gabriela Canavilhas. O Governo vai tentar parcerias com transportadoras, para que os livros sejam doados sem que as editoras tenham encargos financeiros.
O presidente do júri do Prémio Leya, nada menos que Manuel Alegre, não quis comentar o caso específico das edições destruídas. No entanto, confirmou saber que esta é uma prática recorrente das editoras. "Fico muito triste, podia encontrar-se uma solução para resolver este problema", afirmou o poeta socialista, editado pela Dom Quixote, também do grupo Leya. "Devíamos enviar os livros, pelo menos alguns, para escolas, hospitais e prisões de países que partilham a mesma língua", frisou, sublinhando que não tem conhecimento de que qualquer das suas obras tenha sido destruída. O i tentou obter uma reacção de Miguel Pais do Amaral, presidente do grupo, mas não foi possível até à hora de fecho.
por Sílvia de Oliveira e Ana Rita Guerra, Publicado em 05 de Março de 2010