Foi você que pediu uma BD?

Face à crise que reina no sector da edição em Portugal - especialmente visível na BD durante 2006 -, os autores têm procurado alternativas aos editores tradicionais, tentando que as suas criações continuem a chegar ao público.

A edição de autor e as pequenas editoras eram até agora as primeiras escolhas, potenciadas até pelo facto de a impressão digital permitir, actualmente, edições na ordem dos 200 exemplares. No entanto, um novo sistema, o "Printed on demand" (POD, algo como "impressão por pedido") está a despontar na internet e apresenta desde logo algumas vantagens não implica investimento financeiro, não gera qualquer tipo de stock e permite ao autor publicar o que quiser, na forma que desejar (ver caixa).

No site lulu.com, um dos que se especializou no POD, encontramos obras de dois autores portugueses um caderno de apontamentos, profusamente ilustrado por Carla Pott, e o álbum de BD "As aventuras do Príncipe Ziph", de Luís Peres, uma saga galáctica que narra, com humor e muitas surpresas, a busca de um livro mágico que permite manter a paz entre os diversos povos do planeta Marte.

Carla Pott, que tem feito ilustração para jornais, revistas e livros infantis, garante que "o novo sistema proporciona a liberdade que desejo e sem esperar que as editoras aceitem ou não. Assim, o público é quem decide". Como confessa, "o sistema POD foi a primeira opção; numa editora os projectos demoram muito tempo na gaveta".

Razões semelhantes são apontadas por Luís Peres, designer há 14 anos, no desemprego há dois, o que lhe permitiu pôr no papel as histórias que o acompanhavam há muito. O autor garante que a escolha surgiu "porque gosto da ideia de independência e o POD é um instrumento fantástico, pois permite apresentar um trabalho com qualidade profissional logo à partida e ver se a receptividade justifica o investimento na continuidade".

Financeiramente, "a opção não é dispendiosa, só necessito de fazer o trabalho e não tenho custos", realça Carla Pott. Concordando, Luís Peres aponta alguns aspectos negativos do POD "Temos de ser nós a fazer toda a promoção, se queremos dar a conhecer o trabalho; em termos de BD, o lulu.com apenas trabalha com o formato americano (o que me obrigou a adaptar as minhas pranchas), com capa brochada, não cartonada, e agrafada, logo sem lombada".

Responsável da Pedranocharco Edições, Machado Dias confessa-se "entusiasmado com o POD". No entanto, vê "pouca gente interessada em fazer encomendas via net ". Por isso não acredita "que o sistema vá substituir os editores tradicionais no futuro". Marcos Farrajota, ligado à edição independente e a fanzines como o "Mesinha de Cabeceira", alinha pelo mesmo diapasão "O POD não vai mudar muito, só vai tornar as coisas mais eficientes". E reconhece que "para um autor será mais fácil editar mas enfrentará os mesmos problemas de distribuição e promoção".

Disponível para qualquer tipo de obra, o sistema "Printed on demand" (POD) assenta num princípio simples o autor entrega a obra acabada em formatoPdf a um site especializado para o efeito, que, por sua vez, o coloca disponível para venda on-line, só fabricando cada exemplar quando tem uma encomenda. O preço de custo é calculado antecipadamente, a partir das tabelas disponíveis, de acordo com as características da obra, definidas pelo autor. Este, escolhe depois a margem de lucro que deseja, sendo que, em cada venda, uma percentagem desta (entre os 10% e os 25%) reverte para o site; o restante é entregue ao autor que a qualquer momento pode consultar na sua área pessoal do site quantos exemplares já foram vendidos. O cliente encomenda on-line e passados alguns dias recebe em sua casa, devidamente acondicionada, a obra. No caso do lulu.com, a existência de uma filial espanhola, a Publicaciones Digitales, S.A., reduz bastante os prazos indicados para entregas na Europa.

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