Sem ter pedido a necessária autorização ao António Arriaga, autor do texto que se segue, mas que pela qualidade pedagógica do mesmo não resisti em fazer dele a necessária introdução, necessariamente sucinta sobre as nova tecnologias aplicadas ao nundo daimpressão livreira.Tal como a expressão inglesa sugere, print-on-demand é um processo de “impressão a pedido”, mediante o qual se usa tecnologia de reprografia digital para se imprimir um conteúdo editado e guardado em formato electrónico. Dado que, neste processo de impressão, a alimentação à impressora do conteúdo a imprimir é digital, são dispensadas as tradicionais tarefas preparatórias usadas em offset, quer de pré-impressão fotográfica, como as afinações de máquina, o que, não só economiza, em muito, o seu custo, como torna o processo muito menos moroso e mais flexível.Por outro lado, podem-se imprimir um a um os exemplares pretendidos, sem aumento do seu custo unitário, o que também dispensa a necessidade de execução de tiragens mínimas, típica da impressão offset e em qualquer momento se podem reimprimir mais exemplares. No fundo, passa-se exactamente o mesmo quando imprimimos qualquer ficheiro a partir do nosso PC.Os principais fabricantes internacionais de equipamentos de impressão digital (HP, EPSON, XEROX, OCÊ, entre outros) têm vindo a desenvolver máquinas de uso profissional, tecnicamente muito sofisticadas e potentes, capazes de imprimir em grande velocidade, com extrema qualidade gráfica, seja em preto ou cor e quase em qualquer tipo de suporte – papel ou outro – de qualquer formato, em folha ou rolo e que permitem encadernações e acabamentos em tudo idênticos aos tradicionalmente usados.Dadas as suas vantagens económicas e operacionais, a impressão a pedido tem sido crescentemente usada na produção gráfica de edições de tiragem reduzida, ou mesmo unitária, tais como catálogos, brochuras ou folhetos, revistas ou jornais e também de posters ou cartazes em formatos maiores.Mais recentemente, esta tecnologia vem sendo aplicada ao negócio livreiro, permitindo a publicação de obras de previsível baixa procura, pois elimina os riscos de sobras, bem como os custos associados aos stocks editoriais e facilita a sua reedição ou republicação. São assim evidentes as enormes vantagens deste sistema de impressão, quer para autores, quer para editores, pois assegura-se a permanente disponibilidade de quaisquer obras, domina-se a sua incerteza comercial, privilegiam-se as audiências selectivas ou restritas e flexibiliza-se a sua edição, quer no conteúdo, quer na forma.Adicionalmente, facilita-se também a republicação de livros já esgotados, mesmo se editados antes da “era digital”, uma vez que se pode proceder à sua digitalização, através de OCR (optical character recognition), permitindo ainda a sua revisão ou actualização pelo respectivo autor.© António Arriaga

Publicar um livro já é grátis

Print on Demand é o novo sistema de publicação que permite a qualquer um publicar gratuitamente o seu próprio livro. À falta de editora, muitos portugueses já avançaram para a auto-publicação e mostram-se satisfeitos com o resultado final.

Publicar um livro é o sonho de muitos, mas poucos o concretizam. As editoras, diz-se, só abrem a porta aos conhecidos e raramente espreitam quem não conhecem. Há outras soluções, como as edições de autor, que têm sempre as portas e janelas abertas para quem pode pagar. Mas não sendo conhecido, a probabilidade de encher a garagem com livros por vender é grande. Fartos de esperar, muitos escritores descobriram a chave que abre a porta do «publica o teu livro gratuitamente».

O novo sistema de publicação chama-se Print on Demand (POD, algo como 'impressão a pedido') e possibilita que o escritor publique o seu próprio livro da forma que entender, sem custos iniciais de impressão ou pedidos mínimos de exemplares. Um exemplar só é impresso depois de existir uma encomenda on-line. O autor do livro é que escolhe o preço de venda, sendo que uma margem que varia entre os 10 e os 25 por cento reverte para o sítio onde publicou o livro.

Laura de Sousa Vieira, 56 anos, é surda desde os seis, o que não a impede de «entender tudo ou quase tudo», como rapidamente adverte. No espaço de cinco meses já publicou dois livros no sítio Lulu.com: Réstias de Sol, em Novembro de 2007, e Sons de Amor, em Abril deste ano. A ideia de publicar os seus próprios livros surgiu do lado de lá do Atlântico: «Um amigo brasileiro que ia ao meu blogue disse-me para publicar um livro porque gostava muito da minha poesia», conta Laura Vieira.

Eduarda Sousa

Vantagens do Print on Demand

Depois de ter ouvido que em Portugal é o «cabo dos trabalhos» para lançar um livro, uma vez que as «editoras são muito exigentes» e se gastam «balúrdios», a escritora resolveu avançar para o sistema de auto-publicação. O maior benefício do Lulu.com é, na opinião de Vieira, pagar somente os livros que mandar imprimir, não correndo assim o risco de armazenar os restantes.

Para outro autor do Lulu.com, o músico Nuno Castelo, de 32 anos, as vantagens que o POD apresenta em relação às editoras tradicionais são óbvias: «Primeiro, podemos ser nós a fazer tudo (desde o formato, paginação, grafismo, etc). Não há prazos a cumprir. E não podemos esquecer a possibilidade de escrever sobre tudo o que nos apetecer e sermos nós a decidir o preço final do livro».

Padrões Hipnóticos da Linguagem – Influência e Persuasão – Vol.I e Espaço de Memórias são os dois livros que já saíram da pena do músico, adepto do «faça você mesmo». No terceiro, Principia Discordia, Nuno Castelo resolveu experimentar o papel de editor. O objectivo do autor do Lulu.com não passa por chamar a atenção de nenhuma editora mas apenas pelo prazer que sente em ser ele próprio a editar e publicar os seus livros.

Eduarda Sousa

Mercado editorial português

O autor d’Espaço de Memórias traça um retrato muito negro da situação actual do mercado editorial português: «Os livros estão cada vez mais caros, porque existem muitos intermediários, a promoção está guardada, apenas, para os best-sellers e como se não bastasse os próprios conteúdos, por vezes, são questionáveis, relativamente às suas fontes e até à sua qualidade».

Também o artista plástico, webdesigner e escritor Francisco Capelo, de 35 anos, decidiu publicar por sua «conta e risco» porque não queria depender das editoras que são, no seu entender, «para os escritores o que as galerias de arte moderna são para os artistas: empresários que buscam unicamente o lucro» e que «nem sequer lêem os livros».

O artista plástico soma já onze livros editados através do Lulu.com. O primeiro – Porque o Ocidente não é o melhor – Os 10 Mitos de superioridade da civilização ocidental – surgiu em 2004, em língua inglesa, sendo posteriormente traduzido para português. O livro pode ser encontrado à venda na Amazon, na Barnes & Noble e Borders, entre outras livrarias online mundiais.

Ao contrário de Nuno Castelo, Francisco Capelo espera vir a captar o interesse de alguma editora mas, frisa, «não para edições de autor»: «A editora teria de ser séria e apostar em mim pelos conteúdos que escrevo e não por outros motivos como os financeiros». O escritor já enviou os seus livros a algumas editoras mas as respostas ora variam entre o «não» ou com propostas para edições de autor.

Eduarda Sousa

Print on Demand não ameaça edição tradicional

Apesar de considerar a auto-publicação «algo do futuro», Nuno Castelo não acha que esta nova forma de publicar livros vá ameaçar a publicação tradicional: «Continua a ser necessário existir uma boa e organizada máquina de investimento, em promoção/ divulgação e distribuição, para que o produto esteja não só disponível mas também acessível ao consumidor».

O editor da Quasi Edições, Jorge Reis-Sá, concorda com o escritor do Lulu.com porque considera que esta mudança «não resolve nem a questão da pré-impressão do livro (paginação, capa, etc) nem as da distribuição». Da mesma opinião é o editor Nelson de Matos que vê no POD uma «forma dos jovens autores ou dos autores que não encontraram editor divulgarem os seus textos». O responsável pelas Edições Nelson de Matos pensa, no entanto, que se o autor conseguir divulgar e chamar convenientemente a atenção para os seus textos, poderá suscitar o interesse e a curiosidade de um editor tradicional mais atento a este tipo de fenómenos.

Eduarda Sousa

Livrarias continuam a vender melhor

Em Portugal, Nuno Castelo vende melhor através das livrarias, uma vez que os portugueses ainda não têm muito o hábito fazer compras on-line. Em compensação, tem melhores resultados no mercado brasileiro, para onde exporta através da Internet. O balanço tem sido bom: «As vendas correm bem e o feedback tem sido muito positivo», garante.

Menos satisfeito está Francisco Capelo que afirma que «as vendas correm mal a todos os autores Lulus». No fórum português que existe no Lulu.com, os autores acham que as fracas vendas se devem ao facto de não existirem unidades de impressão e distribuição em Portugal ou no Brasil (o que diminuiria os portes de envio) e de não haver um site em português que ajude a divulgar as obras que vão sendo publicadas. Contudo, Capelo não se mostra desapontado: «Só tenho coisas boas a dizer do fundador do Lulu.com, Bob Young, e da empresa: mais democrática seria impossível». Todos os três escritores do Lulu.com referem que os livros não demoram mais de uma semana a chegar.

O próximo livro de Laura de Sousa Vieira, a ser publicado no Lulu.com, será sobre um problema de saúde por que passou recentemente. «Pelo menos na minha cabeça já está escrito», garante. O de Francisco Capelo tem a ver com o «processo de tornar qualquer pessoa um escritor, através da descrição detalhada dos aspectos da publicação online, seguindo o exemplo Lulu». «Estou a gostar muito de o escrever», confessa, sabendo que vai dar muitas alegrias «a pessoas que nem sonham como é cada vez mais fácil ser escritor». Uma ficção-histórico-politica, ainda sem nome, será o sucessor de Principia Discordia, de Nuno Castelo.

Eduarda Sousa